Wednesday, August 25, 2010

"Canção do engate"

Hoje existe e eu existo. Este momento existe. Este agora que aqui está existe. Consigo vivê-lo e senti-lo. Quase consigo tocá-lo. Este hoje é real. E o amanhã? O amanhã não interessa agora. Não é palpável, não tem consistência. Não faz sentido esta noite.
Tu és real. Existes. Tal como eu. Fazes uma pausa na rotatividade do teu sistema solar e vens procurar um outro Sol: eu. Uma, duas, três voltas à roda deste Sol e já tudo gira. Giram os copos, giram as cabeças, giram as mãos. Giram os braços em abraços apertados e os lábios em toques tímidos. Giram os beijos com vontade própria. Giram os corpos na mesma direcção.

Giram os corpos em direcções opostas. As luzes acendem-se. É a hora de cada um regressar ao seu sistema solar. Trocam-se duas palavras. Não se trocam números ou letras. Não se troca mais nada do que aquilo que se trocou. E o que fica são apenas as memórias (desfocadas) de mais uma noite. De mais um hoje que se tornou ontem. E um amanhã que se tornou real porque já é hoje.

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