Em nome da Terra

"Vou-te amar intensamente como nunca. Amei-te com avidez precipitação impreparação juvenil. Havia uma distância enorme de permeio e eu tinha de a preencher. Amei-te depois com luxúria como se diz no catecismo. E amei-te como cumprimento de um horário semanal."

Vergílio Ferreira


Foi mesmo. Assim.

Dezembro

E foi Dezembro
Inteiro
A anunciar
A solidão
Dos dias
Por nascer.


Luís Represas




Já sabias tudo. Já sabias como seria e como não seria. Sabias que sim. Que ia acabar terminando, como tudo o que tem um começo. Sabias que sim. Que o final estava próximo. Mais próximo do que tu o previas. Sabias que sim. Que o dia depois de amanhã seria doloroso. Sabias que a noite seguinte seria mais fria do que qualquer uma das noites mais frias da tua vida. Sabias que o rubor na face iria desaparecer. Sabias que o brilho nos olhos iria deixar de ser uma constante. Sabias que sim, mas ainda assim te deixaste levar. Sabias que aquele sorriso não era teu, que aquele corpo não era o teu e que o outro corpo que te acompanhava nunca seria teu. Sabias que Dezembro chegaria e passaria tão depressa que o quinto mês iria acabar por vir sem tu dares por ele. Sabias que outra estação iria florir sem que tu pudesses fazer alguma coisa para o evitar. Sabias que este destino não teria sido o escolhido. Mas para lá de tudo isso sabias o que sabes hoje. Sabias que seria ainda melhor do que o que fôra. Sabias que a dor seria ainda maior do que aquela que já sentiras. Sabias que a despedida seria ainda pior do que a que já sofreras. Sabias que o cheiro seria tanto melhor que aquele que já alguma vez sentiras. Sabias que o brilho voltaria. Sabias que por saberes tanto tinhas de deixar tudo como estava. Sabias, mas mesmo sabendo, não soubeste saber quando largar.

La última luna

Nuestra ultima noche. Nuestra... No era nuestra sino mía. A nadie más que a mi le importaba esa noche. Para los demás era una noche como otra qualquiera. Incluso para ti. Incluso tu la veías como una noche más de un día más que se había terminado. Y yo creía que esa noche no era el final sino el principio de todo. El principio del mundo, la creación del hombre, el comienzo de los siglos. Pero no lo era. Y esa noche fue el final de lo que no pasó. Fue el decir adiós para siempre. Fue... No sé qué fue, solo sé que esta noche, antes de acuestarme, pensaré una vez más en ti. Y sé que mañana, cuando me despertar, volveré a pensar en ti. Y por la tarde, cuando vuelva a casa del trabajo, pensaré en el cuanto quería estar contigo una otra vez. Nada más que eso.

Do não querer

A última vez que aqui estiveste. Ainda assim me lembro dela, apesar do tempo que passou. Entraste em mim tão forte, tão quente, tão doce. No teu aperto, no teu abraço senti... não sei que senti. Senti que te tinha, que me tinhas e que me querias ter. E foi tudo tão rápido. A tua mão a apertar a minha, o meu corpo a apertar o teu. Foi tão rápido que acabou tão depressa como tinha começado. Frio. Triste. Distante. Não sei quem eras - não te conheci, não eras aquele com quem me tinha deitado. Eras outro. Um ser distante. Não me querias ali como tinhas desejado. Não me querias por perto. Não me querias ao teu lado. Não me querias só não me querias. Não querias. Não me. Querias não a mim. Não eu. Não me querias. Não queres.

"Não fizeste nada, foste perfeito."