Friday, November 24, 2006

Do rio

Dá-me as palavras finais. Já mas deste e eu chorei. Não tanto como agora. Agora choro porque não posso esquecê-las. Mas não essas. Essas não. Outras. Falam daqui e dali. De um lugar comum. Atiro ao rio estas lágrimas que não são de sal. Lágrimas de açúcar. Adoçam esse leito. Do rio.

Desnudo

Só,
simples e descoberta.






Espero pela chegada da voz.









Vens?

Tuesday, November 21, 2006

de ti

Se eu soubesse ter-te-ia dado os parabéns. Se eu soubesse ter-te-ia dado um beijo grande e contemplado aquilo que tu és. Se eu soubesse ter-te-ia abraçado. Se eu soubesse ter-te-ia enviado uma mensagem, uma linha, uma palavra. Se eu soubesse teria fugido contigo. Se eu soubesse estaria a teu lado neste momento a escrever palavras para ti. Se eu soubesse riria contigo. Se eu soubesse dar-te-ia a mão e deixar-me-ia levar. Se eu soubesse escreveria o teu nome na rua até que tu o lesses nos meus olhos. Se eu soubesse deixaria o mundo todo de parte para nele ser um só ser contigo. Se eu soubesse roubaria os dias do calendário para que eles me fizessem a mesma partida que me fizeram. Se eu soubesse abria a janela e gritava. Se eu soubesse não deixaria este destino passar-me ao lado.

Se eu pudesse olharia para ti todos os dias. Se eu pudesse sorriria para ti. Se eu pudesse diria a todos que sim. Se eu pudesse libertaria a minha alma. Se eu pudesse deixaria o vento levar-me para não voltar a ter de lutar. Se eu pudesse seguir-te-ia até ao fim. Se eu pudesse dizer-te-ia que guardo a tua imagem na minha cabeça. Se eu pudesse contaria a todos esta sensação que me prende. Se eu pudesse plantaria árvores em volta de tua casa para que nunca te faltasse o oxigénio. Se eu pudesse corria o mundo em busca de alguém como tu para não ter mais de pensar em ti. Se eu pudesse dar-te-ia uns óculos para veres o mundo cor-de-rosa, nos dias mais cinzentos. Se eu pudesse comprava outros óculos para mim, que me fizessem esquecer o que sempre estou a lembrar. Se eu pudesse conduziria o Tejo para que o visses da tua janela ao acordar. Se eu pudesse deixava de fingir esta pessoa que não existe. Se eu pudesse mudava tudo o que não mudei.

Friday, November 17, 2006

Decalques do futuro

Ouço uma melodia ao longe... Não sei de onde vem nem para onde vai. Como sempre nada sei. Há tanta falta de conhecimento em mim que desconheço de onde vem. É como esta melodia que ouço. Podia ser pintada num quadro quieto. Numa paisagem em movimento ou num muro abandonado. É a melodia que vive em mim. É a melodia que atiro ao mar, para que não ma devolva. És a melodia. És o sagrado e o profano misturados num só. És a autenticidade do ser. És a sua conspurcação. És uma nota em muitas mais. Que melodia esta! Que suspiro o meu quando a apago em mim. E não poder transformá-la num milagre...

Monday, November 13, 2006

Quando amanhecer

Quando amanhece, a alma está limpa, o corpo está despido de todos os perigos que nos assombram durante o dia. Quando amanhece, há coisas lindas e coisas belas. Quando amanhece não há espaço para o feio. Quando amanhece estás aqui e és tu. Intenso, Grande, Despido de todos os pudores. Quando amanhece, o que ontem era escuridão torna-se tão claro, que a sua luz ofusca. Quando amanhece Lisboa desperta e o Céu sorri. Quando amanhece e tu estás perto de mim o meu mundo é mais belo. Quando amanhece.

Se amanhecer.

Ruínas do sonho

As ruas da cidade não são as mesmas que outrora. Os espaços não são os mesmos, os lugares estão diferentes. Há gente na rua. Há gente na casa. Não as conheço, não sei quem são. Duas gentes diferentes. Duas ruas desiguais. Há silêncio inocente. E há barulho nos umbrais. Há vazio que desassossega. Há preenchimento que cega... Há ternura que não vem porque de pedi-la não há coragem. Há gestos que não se concretizam porque a experiência o desaconselha. E quando se cumprem os gestos o que sobra? A mágoa do tempo perdido, das horas em que a esperança de ver surgir lá no fundo o que se buscava era maior que qualquer pensamento de fracasso... E depois há sempre a revelação. Há sempre o esperar, que pode ser diferente. Que afinal não percebi bem. Que não é bem como estão a dizer que é.

E no final a queda do muro que se constuiu e que nos elevava ao céu. A queda do cimo do monte que nos mostrava o sol. A queda da vida. A queda da ilusão. A queda do que não existia senão na nossa cabeça. A queda do ser assim. A queda do deixar para depois. A queda do acreditar. A queda do desenlace. A queda do final.