Sunday, September 26, 2010

Sabes o que me deixa feliz? Poder estar contigo outra vez, tocar-te, tocares-me mas saber que agora já não significas nada. Saber que agora já nada pode magoar-me. E isso é o que o torna ainda mais espectacular...

Thursday, September 16, 2010

Como dizer a saudade quando se finge que não se gosta? Pior do que isso é não perceber como se pode sentir saudade daquilo que não se gosta... Talvez se goste ou se pense que se gosta. Mas a verdade é que enquanto se quer gostar, gostaremos. E sem se perceber porquê. Sem se perceber porque se quer gostar assim tanto, sem perceber porque não se "mata" apenas o problema. E foi tudo apenas uma questão de passar e sorrir. Uns segundos que despoletaram esta saudade que bate hoje aqui agora neste momento com uma força bruta.

Wednesday, September 15, 2010

Não sei o que me resta para te dizer hoje. Não sei que palavras ainda posso dizer que não tenham já sido ditas. Não sei porque corro para ti em pensamentos. Não sei porque ainda digo "tu", "para ti", "te" e expressões afins que se referem a "ti". Mas tantas vezes o digo, tantas vezes tantas que já nem sei quem és "tu". E ainda menos sei quem sou eu. Já não sei quem é o ser que escreve "para ti" mas não é o mesmo que "tu" conheceste. Há qualquer coisa que já não bate certo e afinal não sei quem és "tu", absolutamente pelo facto de que nunca soube. Porque nunca soube o que estava por debaixo da "tua" pele ou dentro da "tua" cabeça. É por isso que quando escrevo "para ti" não sei quem és.

Tuesday, September 14, 2010

Ando por aqui à tua procura nestas páginas como quem não quer dar a perceber que procura. Viro uma aqui outra ali. Lanço um olhar, faço um sorriso e faço o olhar de quem não quer, mas quer muito. Desço uma rua e não outra. Atravesso a praça principal, dou a volta ao lago e alimento os patos. Fico mais um pouco a olhar o vazio. As paredes destas avenidas olham-me com estranheza. Também eu quando me vejo ao espelho o faço.
Espero por pessoas que não chegam. Escrevo coisas para homens que não vêem. Canto melodias para seres que têm os ouvidos colados. Não sonho porque o sono nunca mais chega...

Friday, September 10, 2010

Porque tu eras o filho da mãe que me fazia ficar acordada até tarde, à espera de um sinal teu. Eras o filho da mãe que me puxava e depois empurrava com mais força. Porque tu eras o filho da mãe que me provocava e depois fazia o desentendido. Porque tu eras o filho da mãe que eu queria mais que tudo, mesmo sabendo que te devia querer menos que tudo. Eras o filho da mãe que me consumía como quem consome um maço de tabaco. Porque eras o filho da mãe que me tocava e depois me repelia. Eras o filho da mãe que me beijava e depois se ria. Eras o filho da mãe a quem eu queria beijar e depois fugia.

Thursday, September 09, 2010

Álvaro de Campos

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjectividade objectiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui - ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas - doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Álvaro de Campos

Wednesday, September 08, 2010

Onde termina a dor e começa o prazer? Ou pelo contrário, em que momento o prazer se torna dor? Se no momento em que se quer intensamente uma coisa, essa coisa não se deseja, como mudar? Como tornar tudo perceptível? Como fazer para que essa coisa que se quer, mas não se deseja passe a ser desejada? E como fazer para que no momento em que finalmente se deseja essa coisa, essa coisa ainda nos deseje e queira? Como pô-las em sintonia? Como tornar uma, duas coisas tão diferentes? Será que a mentira pode ser perdoada por vezes? Será que a mentira serve para enganar alguém ou será que no fundo nos enganamos a nós mesmos? Será que todos aqueles que apregoam a verdade são uma perfeita mentira? E como perceber a mentira? Como saber se o é, quando aquele que mente não sabe que o faz? Será o mesmo que dizer que se deseja aquela coisa que só se quer muito? Como distinguir esta coisa daquela? Como distinguir uma falsa verdade de uma mentira verdadeira? Como orientar o caos? Como responder a todas estas perguntas?

Posso?

Trincar-te o pescoço só com o olhar.
Beijar-te os lábios só com a vontade.
Tocar-te o corpo só com palavras.

Cupido

"Eu vi, quando você me viu..."

Há momentos que se guardam como instantes inesperados na nossa memória. A noite. Daquela noite ficaram apenas resquícios daquilo que foi. Ficou o primeiro olhar. Ficou o momento em que eu sei que tu me viste. Aquele em que os olhares se tocaram e dois sorrisos se tornaram um. O momento em que o mundo parou para ver quem escrevia assim poesia com os sentidos.

Tuesday, September 07, 2010

E ele escreveu:

"Tenho saudades daquilo que nós éramos antes desta cidade, antes desta viagem, antes do sexo. Porque não sei viver sem ti, nunca o soube e não sei como estou a conseguir aguentar-me sem ti. E quando penso que este amor diminuiu, há um dia em que no meu peito se abre uma fresta mesmo até ao coração e aí encontro-o inteiro de novo. Só não sei se também o teu continua do tamanho do mundo como era, mas quero acreditar que sim. E é este amor que me faz escrever as mais lamechas e pirosas cartas de amor, com deixas que parecem saídas de uma novela da tvi... Não será ridículo o amor?"

No final leu para si mesmo e rasgou o papel. Para ele existiam coisas que não podiam ser postas em palavras e o amor era uma delas.

Monday, September 06, 2010

Estava rodeado de gente, mas só. Estava rodeado de gente, mas sentia-se só. Porque nenhuma daquelas pessoas que o rodeavam era ela. Percorreu caminhos, ruas, avenidas... Andou, andou e andou. À procura dela. E em cada rosto que via, via o seu rosto. Mas nenhum desses rostos eram o rosto dela...

Friday, September 03, 2010

Olhar para ti uma vez antes de adormecer... Se não me mata, só pode tornar-me mais forte.

Wednesday, September 01, 2010

OK?

OK. Tenho saudades tuas. E agora quê? Que diferença faz neste momento? Tenho saudades tuas, como já tive antes. Como tinha tantas vezes, mesmo quando ainda te podia tocar. Mesmo nessa altura em que estavas à distância de um braço. Mesmo nessa altura tinha saudades tuas porque não tinha a autorização para te tocar. Não tinha permissão para esticar o braço e sentir com os meus dedos a tua pele. Não tinha não. OK?

OK. Tenho saudades tuas. E depois? Estas saudades não vão ser mortas. Pelo menos não morrerão da forma natural de matar saudades (estar com o objecto da saudade). Estas saudades morrerão lenta e dolorosamente com o tempo. Vão apagar-se para sempre. E nesse momento já não vou sentir falta do teu olho. Do teu nariz ou da tua boca. Nesse momento já não vou sentir falta das tuas mãos ou do teu corpo. OK?