Friday, May 30, 2008

Uno

Uma noite sem lua. Noite escura mas clara das luzes da cidade. A Lua fugiu. Não porque houvesse nuvens no céu, talvez lua nova. Noite de Maio. O Verão chega, mas não o sentimos. Nem quase é Primavera. Ainda há no ar o frio das manhãs invernais. A chuva que cai ainda nos gela os ossos. Há um silêncio que não é o do Verão. É um silêncio de ruas sem gente, de casas a fumegar nas chaminés e de pessoas que se escondem debaixo das roupas que as corrompem. Verão. Sempre o esperamos e ele tarda. Como noiva em dia de boda. Como os amantes que não chegam para se desejarem ainda mais.
Cheguei a esta cidade numa noite assim. Talvez tenha sido esta mesma, não o sei. As imagens que consigo recordar são demasiado confusas. Mas recordo sem dúvida o cheiro à terra húmida e o ruído dos carros que passavam a meu lado. Talvez não fosse esta a primeira vez que aqui vinha. A verdade é que embora tudo me parecesse familiar, pela primeira vez abria os olhos a esta cidade. E abria-os com o desespero daqueles que tentam ver no escuro, que buscam uma luz no fundo do tunel. Nessa noite, com esses olhos, eu vi esta cidade. Ruas antigas, casas velhas, abandonadas. Velhos imóveis, com o coração nas mãos, prontos a deixá-lo em qualquer lugar, em troca de um pouco de carinho, de uma palavra de apreço. Gente desconhecida que se conhece, se anima e se guia por uma noite. Amantes que se beijam. Abri os olhos mais e mais. Vi a dor dos que na noite procuram um caminho diferente, vi o olhar dos que já não têm outra escolha. Abri mais e mais e a cada momento havia outro sentido novo das coisas que eu conhecia (talvez de sonhos). Vi um homem, dois homens. Vi tantos homens que já nem sabia quantos era eu, quantos eram a minha alma porque todos eles me pareciam um bocado de mim. E olhei-os nos olhos. De frente, porque apenas aquilo que se vê com os olhos pode ser real. Insisti na sua figura mais e mais, para reconhecer em que parte de mim cabia cada um deles. Não os reconheci em nenhum jeito, em nenhum gesto. Não eram aqueles que eu tinha conhecido antes, no tempo em que as palavras não contavam. No tempo dos gestos.
Como antes se dizia, cheguei aqui numa noite sem luar e com o cheiro do Inverno a pairar sobre mim. Quando passei a porta desta casa que agora é minha, senti o conforto quente que a segurança nos dá e recordei cada noite que passei na casa da minha infância. Recordei as brincadeiras, as birras. O esconder debaixo dos lençóis e sentir que aí o mundo nunca me podería fazer mal. Acordar a chorar só porque sim. Chorar só porque sim, por ver outro chorar ou por medo, por vergonha, por birra. Mas sem esconder. Deixem-no chorar, deixem o menino. E deixavam. E não era preciso conhecer-vos muito bem para saber que o faziam por amor, porque o menino era o menino, que era tão pequenino, que vos fazia rir tanto e tão felizes. Não era preciso muito para vos olhar e em cada mirada ver o os vossos olhos a escorrerem ternura, a deitar amor daquele que nunca se perde, que só pode aumentar com o tempo.
Detrás da porta há uma mulher que me espera. Não a conheço, mas avanço para ela sem perder tempo. Nas suas mãos vejo que posso confiar. Sim, é mais uma das mulheres da minha infância. De onde surgiu agora que não a esperava? Chama-me para o seu regaço e oferece-me colo. Aceito sem uma palavra sem uma hesitação. Toda a vida a conheci, embora nunca a tivesse visto. E nesse momento de entrega ao desconhecido, de assombrosa lucidez, choro sem complexos a dor do caminho. Sem uma palavra. Sem um queixume. E sem mais forças atiro ao chão o corpo cansado.

Friday, May 23, 2008

Porque não desistir??

Nunca disse que era forte...

Lágrimas

Há sempre uma e outra e outra. Estão presas, escondidas, guardadas no seu silêncio. Mas um dia, mais cedo ou mais tarde teimam em libertar-se, e a prender assim a minha alma. Ser ou não ser feliz. Ter ou não ter direito aos sonhos... Ter uma vida pela frente e não ter vontade de a viver. Mas se tenho tanta... Que caminho sigo, que luta esta que não consigo vencer. Estou cansada de hoje mais, desta noite mais. Deste dia mais que se esgotou. Ainda há pouco via o sol nascer.
E elas vêm. Descem por mim, como as mãos mais sábias, mas não deixam um rasto de ternura. Tudo o que delas se solta é raiva, é vontade de mudar e não saber como, é querer isto e tudo mais. E ter direito a dormir, direito, uma vez mais, a sonhar. E sobretudo, são a dor de não ver os sonhos serem realidade.

Wednesday, May 14, 2008

Até quando...

... continuarás a subir no sonho em que nem tu acreditas? Em que dia aprenderás com as tuas quedas?