Wednesday, August 05, 2020

Reencontro

Há dias em que volto a mim, àquela pessoa que eu fui e tenho saudades. Não me reconheceria se me visse desde atrás. As palavras não são as mesmas, custam a escrever e doem. As mãos não deslizam com a facilidade de antes. Nada parece certo e a tudo falta algo. Insatisfação. O defeito dos defeituosos que não se conformam com aquele lugar onde a vida os levou. 
É estranho ler tudo aquilo que escrevi antes e pensar em escrever algo hoje, sentindo que nada do que foi dito poderá ser repetido. Não porque fosse impossível copiar, mas porque não faria sentido. Dei por mim a olhar para trás e a sentir o que senti antes mas eu já não sou aquela pessoa. Chego agora à conclusão que a vida me levou para onde quis e que não fui eu a tomá-la nas minhas mãos. As minhas escolhas foram sempre entre os menos maus. Nunca pelos sonhos. 
Vivi adormecida (como a bela que não fui). E hoje acordo e apercebo-me que os últimos anos não passam de uma névoa na qual mal consigo vislumbrar com clareza. Apaixonei-me perdidamente e vivi desse amor, bebendo dele. Cega por ele. Sem sonhos que não fossem amar-te. 
Hoje olho-me ao espelho e vejo-me. Engraçado como tantas vezes não me reconhecia no espelho (talvez por não me querer ver verdadeiramente) e agora, resignada, aceito o inaceitável. A vida passa. E eu já não sou eu. Sou outra. Sou todas as que fui no passado e mais. Sou a do presente. Que evito a todo o custo porque crescer dói. E aceitar a vida também. Tenho saudades de mim. Do que fui, do que criei. Saudades de viver intensamente. Saudades dos sonhos que sonhei e que não vi.